PADRE CÍCERO NÃO PRECISA DE REABILITAÇÃO, MAS, SIM, A IGREJA.

Enquanto a Diocese de Crato se fez completamente omissa quanto à celebração, na ultima segunda(24), dos 170 anos de nascimento do Padre Cícero, fundador de Juazeiro do Norte, dedicando-lhe o desprezo oficial de sempre, voltamos ao tema recorrente que mais lhe angustiou a vida inteira: sua cassação pela Igreja Católica. Documentação entregue ao Vaticano há oito anos pedindo a reabilitação do Padre Cícero contém um erro proposital de interpretação histórica: Padre Cícero não precisa de reabilitação, pois não cometeu crime algum; quem precisa de reabilitação é a Igreja que o condenou injusta e cruelmente.



Como se sabe, essa documentação foi entregue no dia 30 de maio de 2006, em Roma, pelo bispo de Crato, Fernando Panico, ao prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, cardeal Josef William Levado, em ato acompanhado por 50 personalidades do Cariri e do Ceará. Em sua exposição de motivos de 16 páginas, o bispo explica que o ponto de partida da iniciativa foi um pedido do então cardeal Josef Ratzinger, eleito papa Bento XVI, para que o processo fosse reaberto e estudado. Mas o pedido do bispo de Crato repete o erro secular da própria Igreja que, na defensiva, mantém Padre Cícero cassado: "Venho, com toda esperança e humildade, suplicar à Vossa Santidade que se digne reabilitar canonicamente o Padre Cícero Romão Baptista, libertando-o de qualquer sombra e resquício das acusações por ele sofridas". Ou seja, pede ao Papa para perdoar Padre Cícero, quando a verdade histórica exige uma postura inversa do Vaticano que é quem deve pedir perdão ao Padre Cícero. Para que os leitores entendam melhor, o Juanorte convida-os para um exercício de raciocínio lógico. Ordenado em 30 de novembro de 1870, em Fortaleza, Padre Cícero fixou residência no Juazeiro em 11 de abril de 1872. Em 1892, quando Padre Cícero foi cassado, ficando impedido de cumprir suas ordens sacerdotais, era bispo do Ceará, Joaquim Vieira, época de predominância da romanização da Igreja. Prepotente e arbitrário, com obscura visão teológica, ele não aceitou o Milagre da Hóstia no Juazeiro, em 1889, protagonizado pela beata Maria de Araújo, uma pobre negrinha analfabeta que teve a hóstia transformada em sangue na sua boca na hora da comunhão ministrada pelo Padre Cícero. Para o famigerado bispo, Jesus Cristo não ia perder tempo vindo derramar seu sangue no interior do Ceará e isso só podia ocorrer na Europa, principalmente na Itália de Roma, sede da Igreja. Por isso, desqualificou e jogou no lixo o relatório da primeira comissão, formada pelos padres Clicério da Costa Lobo e Francisco Ferreira Antero, que ele mesmo criou para investigar o fenômeno do Juazeiro e nomeou uma segunda comissão, formada pelos padres Antônio Alexandrino de Alencar e Manoel Cândido, orientada por ele para produzir um relatório exatamente ao contrário, negando a existência de milagre. Assim foi feito e Padre Cícero classificado como “manipulador”, “embusteiro”. Foi esse forjado relatório que o bispo Joaquim Vieira, inescrupulosamente, enviou para o Vaticano. Além disso, o invejoso bispo não suportou o fato de Padre Cícero, simples capelão de batina surrada do povoado do Juazeiro, ser muito popular no Cariri e em quase todo o Nordeste, contando com enorme prestígio, ao contrário dele, bispo, que, mesmo se achando Príncipe da Igreja, de solidéu e batina impecáveis, crucifixo e anel de ouro, parecia um ilustre desconhecido diante do povo. Dominado pela inveja, o bispo Joaquim Vieira abasteceu o Vaticano de calúnias, injúrias, difamações, mentiras e outras ofensas contra Padre Cícero. Com isso, criou, dentro do Vaticano e junto ao Papa um clima totalmente desafavorável ao Padre Cícero. Como conseqüência disso, veio a cassação dos direitos sacerdotais do pobre levita do Juazeiro. Ficou proibido de celebrar missas, pregar aos fiéis, confessar e ministrar sacramentos. Essa decisão causou o maior sofrimento ao Padre Cícero durante o resto de sua vida, até a morte em 1934. Mas, enquanto viveu, foi fiel e obediente à Igreja, resignado: “Eu não tenho o que fazer senão sofrer e suportar esse mar de mentiras, injúrias e calúnias sobre mim“. Seu único conforto: “A calúnia, com audácia e autoridade moveu uma perseguição que deu a morte de Jesus Cristo, quanto mais a mim”. Sua esperança: “Quem vai fazer minha defesa será a própria Igreja”. Sendo essa a verdade histórica, não há por que a Igreja falar em reabilitação. Durante toda sua vida Padre Cícero tentou revogar essa pena, todavia, foi em vão. Aliás, ele até que conseguiu uma vitória em Roma, quando lá esteve em 1898. Foi absolvido pelo papa Leão XIII de quem recebeu autorização para voltar a celebrar e pregar, o que fez ainda durante os dias que passou em Roma ansioso para voltar ao Juazeiro e festejar junto ao seu povo. Entretanto, o bispo Joaquim Vieira, por intransigência, autoritarismo e orgulho ferido, desconsiderou a autorização papal e se manteve irredutível na decisão tomada inicialmente de punição ao Padre Cícero. Como muitos católicos do Cariri e do Nordeste esperam essa reabilitação, ingenuamente, como se fosse um ato de desprendimento da Igreja e de reconciliação com os romeiros, é preciso, em nome da verdade histórica, que seja feito este esclarecimento: nesse caso, reabilitação significa a Igreja perdoar Padre Cícero pelo crime que cometeu e restabelecer suas ordens.Entretanto, como Padre Cícero não cometeu crime algum, reabilitação, nesse caso, é reconhecer a farsa montada pelo bispo Joaquim Vieira. Ou seja, aceitar a reabilitação é aceitar uma farsa da farsa. Por isso, Padre Cícero, vítima de uma farsa, não precisa de reabilitação. Quem precisa de reabilitação é a própria Igreja, pedindo perdão publicamente pela atrocidade cometida contra Padre Cícero e devolvendo-lhe as ordens cassadas injusta e cruelmente. Aliás, vale lembrar que em março do ano 2000, o papa João Paulo II fez a maior demonstração de expiação pública da história do catolicismo: um documento de noventa páginas pedindo perdão por uma série de pecados, erros e crimes cometidos em seus 2.000 anos de existência. Considerando que esses episódios do passado são hoje um peso na consciência do catolicismo, o Papa pediu perdão, publicamente, pelos crimes de intolerância, opressão e corrupção. Contra o Padre Cícero, a Igreja foi intolerante, opressiva e abusiva. Somente o pedido de perdão do Vaticano, corrigindo os erros e a injustiça cometidos por indução do bispo do Ceará, Joaquim Vieira, fará a reconciliação da Nação romeira com a Igreja de Roma, conferindo, finalmente, o reconhecimento desta ao Santo do Juazeiro. Além disso, Padre Cícero não precisa desse falsa reabilitação pois desde 1889 ele é santo para o povo do Nordeste.Já a Igreja Católica precisa do Padre Cícero porque ele transformou sua cidade, Juazeiro do Norte, no maior centro do catolicismo popular da América Latina, recebendo 2,5 milhões de visitantes ao ano. Depois da morte do Padre Cícero, há 80 anos, seus inimigos gratuitos, inclusive dentro da Igreja Católica, apregoaram que a devoção ao levita e a cidade que ele fundou acabariam logo. Enganaram-se redondamente. Mesmo morto, o carismático fundador do Juazeiro permanece com grande prestígio e influência sobre a vida social, política, econômica e religiosa do Ceará e do Nordeste.A devoção ao Padre Cícero tem aumentado extraordinariamente e ainda mais extraordinariamente Juazeiro tem prosperado tornando-se o que é hoje, cidade que mais cresce no Ceará, Metrópole e Capital do Cariri, um dos 72 mesopólos econômicos do País e Cidade 100 do Brasil.

Fonte: Juanorte

1 Comentários

  1. NÃO É PORQUE A BEATA ERA NEGRA,NADA A VER,A IGREJA TEVE MUITOS NEGROS,
    INCLUSIVE 3 PAPAS AFRICANOS

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