Assaltos causam medo e mudam o dia a dia das pessoas

Apesar de não serem a forma mais prejudicial de violência, os assaltos afetam diretamente a população e contribuem para o clima de insegurança. Como consequência, as pessoas são obrigadas a mudar hábitos de vida





As histórias de assaltos se repetem com personagens e ambientes diferentes. Se o episódio não é pessoal, é com alguém próximo. O dano material pode não se comparar com
a perda de uma vida, mas a incidência e o medo de que a violência se torne mais grave assustam e alimentam o clima de insegurança.


Enquanto a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) não divulga dados de Crimes Violentos contra o Patrimônio (CVPs) - que englobam todos os tipos de roubos, exceto latrocínio - do Ceará desde abril, a população faz estatísticas, baseadas em impressões e histórias, de que o número aumenta. Com ele, cresce também o medo.


“Eu só ando assustada porque sei que essas coisas acontecem muito”, diz Noelma Gurgel, 44. Técnica de audiovisual, ela já contabiliza seis assaltos enquanto andava a pé ou de carro, e hoje se diz “traumatizada”. Na última semana, a mãe dela teve o carro levado e uma tia teve a casa arrombada. “Dá é medo de viver”, resume.


Enquanto o tráfico, por exemplo, pode ser considerado uma violência mais prejudicial à população por ser responsável por maior número de mortes, ele é, muitas vezes, “invisível” por acontecer em território específico e, muitas vezes, distante. A consideração é de Jânia Perla Aquino, pesquisadora do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do Conselho de Leitores do O POVO. 

Por isso, assaltos interferem mais na sensação de insegurança. Eles acontecem perto e sem hora e lugar determinados. E, conforme o medo cresce, a população se aprisiona em resposta. “Eu só me sinto segura na minha casa. No momento em que eu saio pra rua, já começa a preocupação”, descreve Raimunda Macedo, 51, que teve a bolsa roubada pela segunda vez em abril deste ano. Desde a ocorrência, Raimunda, que é cabeleireira, mudou a rota que faz entre trabalho e casa tentando se expor menos na rua. “Temos que ficar sempre de olho. Não dá mais para se arriscar”. Os hábitos de Raimunda mudaram no mesmo ritmo que os das pessoas em volta, ela observa. Ficar conversando à porta de casa como antes não é mais possível, diz.


Medo

Um dos efeitos da sensação de insegurança, aponta o professor do Departamento de Psicologia da UFC João Ilo Barbosa, é a influência no cotidiano. “O que eu antes faria de forma tranquila, agora eu posso deixar de fazer ou fazer de uma forma mais mal feita”, exemplifica. Por ser intrínseca, ele diz, a sensação de insegurança só pode diminuir quando a insegurança propriamente dita diminuir. “Eu não posso dizer que uma pessoa não vai correr um risco ao sair de casa porque pode acontecer. Quando se vive uma situação de violência urbana, é difícil retirar o sentimento”. 


O medo faz parte da história da humanidade, frisa a professora Jânia. Atualmente, ele se dá mais pela violência urbana. “Além de preconceito, (o medo) acaba gerando o isolamento”, lembra. A pesquisadora enumera uma série de ações públicas, como promoção de eventos, transporte de qualidade, iluminação eficiente e manutenção de equipamentos, como medidas eficientes para diminuir o fenômeno, além, claro, do policiamento.


Fonte: O Povo

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