40 anos depois da morte de Chaplin, obra do ator e cineasta permanece atual

Chaplin usou o humor para entender o seu tempo e criticar o que considerava absurdo e cruel


Por: Alexandre de Paula


Charlie Chaplin preferiu o silêncio até na hora da morte. Era 25 de dezembro de 1977, madrugada de Natal, quando o defensor do cinema mudo e um dos maiores ícones da sétima arte morreu, aos 88 anos, enquanto dormia, vítima de um derrame cerebral. Quarenta anos depois, a obra de um dos maiores gênios do humor permanece viva e ainda muito atual.

 

O ator e cineasta ficou imortalizado pelos filmes e pelas atuações, mas as palavras também marcaram, mesmo que ele tenha relutado em aceitá-las na telonas. Os discursos e frases de Charles Spencer Chaplin reverberam até hoje e circulam por aí (principalmente nesses tempos de redes sociais) como ensinamentos e lições humanistas.

 

“A vida é uma tragédia quando vista de perto, mas uma comédia quando vista de longe”, disse Chaplin. Talvez a citação ajude a entender um pouco da vida e da trajetória do britânico, que, embora tenha se notabilizado no humor, veio de origem humilde e sofrida.

 

O ator passou por orfanatos públicos depois da morte do pai e a internação da mãe em um hospital psiquiátrico na adolescência. A própria escolha pela profissão de ator teve a ver com problemas na infância. Criança, Chaplin ficou acamado por algumas semanas, a mãe representava cenas para entretê-lo e isso o marcou profundamente.

 

A dificuldade e o drama da infância e da formação do ator estão diretamente relacionados com a obra produzida por ele. Em O garoto (1921), um de seus clássicos, Chaplin conta a história de um menino abandonado pela mãe e que passa a ser criado por  Carlitos, maior dos personagens do artista.

 

Carlitos e o próprio Chaplin se confundem. O nome do ator remete diretamente ao vestuário adotado por ele como o vagabundo. A criação do ícone, no entanto, aconteceu por acaso, de improviso. Chaplin usou os elementos que tinha à mão, no set, e gerou o personagem imortal.

 

Na pele de Carlitos, usou o humor para entender o seu tempo e criticar o que considerava absurdo e cruel. As condições desumanas de trabalho e os males da tirania foram algumas das questões que ele levou para o cinema e que foram fruto de um contexto ligado à Revolução Industrial e às guerras mundiais.


Perseguições


“A cobiça envenenou a alma do homem, levantou no mundo as muralhas do ódio e tem-nos feito marchar a passo de ganso para a miséria e os morticínios”, diz em O grande ditador, um dos momentos em que Chaplin cedeu ao cinema falado. “Lutemos, agora, para libertar o mundo, abater as fronteiras nacionais, dar fim à ganância, ao ódio e à prepotência. Lutemos por um mundo de razão, um mundo em que a ciência e o progresso conduzam à ventura de todos nós”, continua.

 

Claro que tocar em temas espinhosos e criticar, muitas vezes, os donos do poder teve um preço alto. Chaplin enfrentou diversas críticas pelas posições humanistas que tinha, foi chamado de comunista e investigado pelo governo americano. Hollywood o deixou de lado por muitos anos, mesmo que ainda tenha buscado reconhecê-lo mais tarde, com premiações como o Oscar.

 

Não por acaso, questões como essas continuam presentes na sociedade contemporânea. E Chaplin, por isso mesmo, segue sempre atual.

Clássicos de Chaplin

O ator e cineasta fez diversos filmes que se tornaram fundamentais para o cinema. Confira algumas das principais obras do artista.


O garoto (1921)

Com clara inspiração na própria vida, Chaplin une com maestria o riso e o choro em O garoto, que conta a história de um menino abandonado adotado por um vagabundo.


Luzes da cidade (1931)

Uma florista cega se apaixona por um vagabundo. Como não pode vê-lo, ela acredita que se trata de um milionário. Um dos filmes mais tocantes de Chaplin.


Tempos modernos (1936)

Neste longa, Chaplin usa o humor para fazer uma crítica ferrenha aos problemas da Revolução Industrial e da exploração do trabalho.


O grande ditador (1940)

Primeiro filme inteiramente falado de Chaplin, O grande ditador é uma crítica satírica a ditadores, claramente direcionada a Hitler. Isso no auge da Segunda Guerra Mundial.


Luzes da Ribalta (1952)

Mais próximo do fim da carreira de Chaplin, este longa, com um quê de autobiografia, conta a história de um palhaço esquecido pelo público com o tempo.

Correio Brasiliense

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