Quase ninguém se preocupa com o sofrimento emocional de um pai de prematuro


Nesse mês de setembro, em que convidamos a sociedade a pensar sobre a saúde psíquica e emocional, não tem como não discutir sobre a alta incidência de depressão pós-parto, transtorno de ansiedade, pânico e outros transtornos emocionais em pais de UTI Neonatal e Pediátrica.

Afinal de contas, o estresse emocional vivido pelos pais de prematuros ou crianças de alto risco, é uma vivência caracterizada por diferentes emoções, sentimentos e expectativas, que se modificam dia após dia, conforme a evolução clínica dos bebês, fragilizando os pais emocionalmente.

Apesar de a nossa sociedade ainda necessitar de muita compreensão e diálogo sobre todas as transformações emocionais que ocorrem durante uma gestação e puerpério, sabemos que as mulheres, diante de um maior número de pesquisas sobre as características emocionais do famoso período baby blues e da depressão pós parto, tendem a ser mais acolhidas e acompanhadas.

Frequentemente, as gestantes de alto risco que ficam internadas recebem apoio psicológico para iniciar o processo de elaboração e compreensão sobre o que significa não vivenciar uma gestação ‘normal’, ter uma gestação muito diferente da que foi idealizada, ter um filho prematuro que ficará meses em uma UTI Neonatal, ou que não sobreviverá.

E o marido? E o pai de uma bebê que nasceria prematura extrema? E o homem que seria pai pela primeira vez? E o homem que seria pai pela segunda vez de um bebê prematuro? E o homem que precisava revezar as suas horas entre casa, hospital e trabalho? E o futuro pai que chora sozinho no carro, no banheiro para que ninguém veja o seu extremo sofrimento? E o marido que tem que colocar um sorriso na face quando vai ao encontro da esposa no hospital, para não passar ainda mais preocupação para ela? E o homem que precisa continuar com um bom desempenho no trabalho, pois as futuras despesas dependem de seu salário, já que ainda não temos uma licença maternidade estendida e obrigatória para mães de prematuros e bebês de risco? E o ser humano-homem que não dialoga sobre suas sensações difíceis/doloridas com os familiares, por não querer se demonstrar “fraco”?

Quem, portanto, acolhe esse homem, marido e futuro pai? Quem dialoga com ele sobre as mudanças sociais, afetivas, espirituais e até mesmo físicas que ele também está vivenciando?

Quase ninguém e, em vários momentos, ninguém se preocupa com o sofrimento emocional de um pai de prematuro extremo ou bebê de risco.

Alguns embasamentos sociais, científicos e técnicos nos ajudam a compreender tal realidade.

Sociais… não precisamos de muito falatório, não é mesmo? Vivemos em uma sociedade machista, com valores que giram em torno da superioridade masculina e que, ainda, “desmerece” ou “violenta” o feminino.

Científicos… existem poucas pesquisas que abordam o sofrimento psíquico masculino após o nascimento de um filho, por exemplo, a depressão masculina.

Técnicos… as equipes interdisciplinares nas maternidades concentram as suas ações terapêuticas na gestante e no bebê. O pai, frequentemente, apenas recebe as noticiais e os relatos técnicos sobre a saúde de sua mulher e de seu filho

amordepai

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