Familiares de presos relatam angústia com vírus em presídios


O vírus da Covid-19 se alastrou pelo sistema penitenciário cearense, com uma morte pela doença, dezenas de casos confirmados e outros suspeitos. A situação preocupa os familiares dos presos, que recebem más notícias das condições de higiene dos presídios, pelos advogados, e estão sem contato direto com os internos.

O detento morto pela doença estava custodiado na Casa de Privação Provisória de Liberdade Professor Clodoaldo Pinto (CPPL) II, em Itaitinga, na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), antes de ser internado na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Horizonte. Ele foi identificado apenas como J.P.L.V, de 36 anos. A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) também confirmou outros 68 infectados pelo novo coronavírus, sendo 67 agentes penitenciários e um preso.

A mãe de um interno, que preferiu não se identificar, está temerosa de faltar água potável, remédio e itens de higiene pessoal. Mas não sabe a real situação do filho. “Meu sentimento é de incapacidade. Desde que eu estou sem essas notícias, eu não consigo dormir, nem comer direito”, afirma a mulher.

Segundo ela, faltam informações do Estado sobre como estão os presídios durante a pandemia. “A SAP não lança um boletim epidemiológico, a gente não sabe como estão os presídios. A gente só sabe notícias pela imprensa. Se não querem a gente em porta de presídio, eu me mantenho distante para não levar nenhuma doença para meu filho, mas a gente precisa saber como a pessoa está”, reclama.

A irmã de outro preso, que integra a rede de familiares de internos do sistema penitenciário cearense nomeada de Voz do Cárcere, afirma que “no geral, a situação de familiares e internos neste surto da Covid-19 é de adoecimento físico, psicológico e da alma”. “A Voz do Cárcere recebe relatos de mães em completo estado de desespero por saberem que o filho já teve tuberculose ou tem alguma limitação e está suscetível ao vírus por insalubridade e subnutrição”.

Conforme a entrevistada, faltam materiais de higiene nos presídios: “Os internos estão relatando que esses kits entregues não são suficientes para uma cela de 20 a 30 pessoas. Eles precisam dividir um sabonete e um barbeador, por exemplo. Os advogados, ao visitarem seus clientes, os encontram sujos”.

A superlotação das unidades penitenciárias dificulta a higiene e a ação do Estado. O último boletim da população carcerária, referente a dezembro de 2019, apontava o total de 23.950 presos no Ceará, enquanto havia apenas 11.651 vagas. Portanto, o excedente populacional era de 105,5%.

Medidas

O titular da SAP, Mauro Albuquerque, afirmou que a Pasta toma medidas de segurança sanitária para prevenir o contágio do novo coronavírus nos presídios, com “triagens, ou seja, toda pessoa que entra no sistema é medida a temperatura; tem que usar máscara, luvas e álcool em gel e as distâncias são respeitadas”. “Com o preso, aumentamos o banho de sol para 3 horas, porque é um fator de saúde”, disse.

Se um detento surgir com sintomas da Covid-19, “ele é encaminhado ao Sistema de Saúde, receitada a medicação, isolado em quarentena, faz um acompanhamento médico nas enfermarias, até ter alta. Se o quadro evoluir, é encaminhado ao serviço médico da Secretaria da Saúde”, aponta o secretário.

A SAP esclareceu que foram realizados exames para Covid-19 em todos os detentos que estavam na mesma cela do preso que morreu, J.P.L.V., e os resultados foram negativos – como já tinha acontecido na cela onde o outro detento que testou positivo.

Por fim, Mauro Albuquerque ressaltou o Programa Carta-Email como uma alternativa para detentos e familiares ficarem em contato, neste momento em que as visitas estão suspensas. A Pasta recebe cartas dos parentes dos internos, por e-mail, redistribui nos presídios, nas quintas-feiras, e devolve a mensagem. A estratégia, entretanto, ainda é vista com desconfiança pelos familiares. “Como eles escrevem isso? Se ele tiver doente, isso vai ser colocado na carta?”, questiona a mãe de um preso.

Foto: Natinho Rodrigues

Fonte: Diário do Nordeste

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