Polícia irá apurar sumiço de peças do Memorial Padre Cícero


A Secretaria de Cultura e Romaria de Juazeiro do Norte (Secron) deverá formalizar, no início da próxima semana, queixa crime pelo desaparecimento de peças do acervo do Memorial Padre Cícero, formado pelas relíquias de Padre Cícero Romão Batista . As peças do acervo tinham sido doadas ao município por contemporâneos do religioso. Além da realização de um Boletim de Ocorrência (B.O), uma denúncia por escrito também será encaminhada pelo Município ao Ministério Público do Ceará.

Ontem, a secretária de Cultura e Romaria de Juazeiro do Norte, Marli Bezerra, esteve reunida com membros da Procuradoria do Município, discutindo os mecanismos jurídicos a serem utilizados na tentativa de se recuperar os materiais que, supostamente, teriam sido retirados do interior do equipamento, caso, durante as investigações que serão realizadas por policiais civis, as peças sejam encontradas.

Inicialmente, as informações davam conta do desaparecimento de cerca 80 livros que compunham a biblioteca pessoal do sacerdote, bem como de peças que estavam guardadas no depósito do equipamento para futura restauração. Também teriam desaparecido fotografias, o equipamento estetoscópio utilizado pelo médico que atendeu Padre Cícero no leito de morte, além de talheres e louças que foram de uso cotidiano do religioso.

Imprecisão

Porém, conforme a secretária Marli Bezerra, ainda não é possível afirmar quais peças teriam realmente sido levadas do Memorial, bem como o tamanho do prejuízo causado pelo desaparecimento das peças ao patrimônio imaterial do município.

"Quem conhece o Memorial sabe que o volume de peças ali expostas hoje é bem menor do que o que era apresentado aos visitantes há alguns anos. O número de pessoas que afirmam perceber um certo "vazio" no espaço onde as peças estão expostas é muito grande. São intelectuais, médicos, advogados, engenheiros, pessoas que conhecem a história do município e que estão muito preocupadas com a possibilidade da perda destes matérias", afirma a secretária.

Marli Bezerra avalia que a constante troca de comando na Fundação Memorial Padre Cícero, responsável pela administração do Memorial, pode ter facilitado o desaparecimento das relíquias. Na administração municipal passada, segundo comenta, pelo menos sete pessoas foram nomeadas para exercer a presidência da Fundação.

Percepção

"O desaparecimento de parte do acervo vem sendo percebido já há algum tempo. A troca constante na presidência da Fundação pode ter acarretado está situação. Quando eu afirmo que sumiram peças, eu não saberia, neste momento, dizer quais seriam estes materiais, mas, pelo volume que normalmente era apresentado aos visitantes, se percebe que o espaço esvaziado", diz a secretária.

As desconfianças em torno do sumiço das relíquias, segundo ela, se confirmaram através de um levantamento realizado pela secretaria, que objetiva reativar a Fundação Memorial Padre Cícero. "Quando se abriu o inventário dos livros se descobriu a ausência de 83 obras literárias. A grande maioria das cartas que foram redigidas de próprio punho por Padre Cícero também não existe mais.
Um funcionário do próprio Memorial chegou informou que as cartas teriam sido jogadas no lixo. Pelo menos 300 cartas foram perdidas ou extraviadas", comentou Marli Bezerra.

Dificuldades

Conforme a bibliotecária Graciane Batista, responsável pelo levantamento realizado pela Secron, pelo menos quinze obras tidas como desaparecidas já foram encontradas. No entanto, 65 livros ainda continuam com paradeiro incerto.

Ela afirma existir dificuldades em confirmar o acervo literário do Memorial, tendo em vista que as obras deixaram de ser catalogadas durante cerca de dois anos. "Antes de assumirmos a função, o único tombamento existente no equipamento era referente ao período de 2007 a 2010. Só houve a retomada do tombamento a partir de janeiro de 2013. Antes deste período não há registro algum de jornais, fotografias, revistas, cordéis, apenas livros. Isso prejudica o levantamento que está sendo realizado", garantiu a funcionária do Memorial.

Caminhão


O presidente da Fundação Memorial Padre Cícero, Antônio Chessman Alencar Ribeiro, classificou a possibilidade do desaparecimento das peças do acervo como um crime contra a alma da população de Juazeiro do Norte. "Esse acervo é de memória. É do povo
, do romeiro que chega aqui ávido, louco para realmente ver coisas do padre Cícero. Não é só um furto de material. É um furto da alma", afirmou.

Antônio Chessman negou, no entanto, que algumas peças noticiadas por veículos de comunicação do país teriam realmente desaparecido do Memorial.

"Embora não possa responder por nenhuma peça não catalogada por gestões passadas, não há veracidade na notícia em torno do desaparecimento do aparelho estetoscópio. Esse equipamento continua aqui no Memorial. Também não houve desaparecimento de batina usada pelo padre Cícero. Aqui no Memorial existem, somente, alguns paramentos utilizados durante as celebrações que o sacerdote realizava", informou.

Paralela à situação do desaparecimento de peças do acervo do Memorial Padre Cícero, um caminhão, repleto de relíquias do sacerdote que modificou toda a história do município, e da própria região, tem circulado por grande parte das regiões do país. Várias cidades do País chegaram a conhecer o acervo que é transportado no veículo, numa campanha que foi amplamente divulgada pelos meios de comunicação de massa.

O veículo faz parte do Projeto Caravana do Meu Padim, desenvolvido pelo jornalista Marcelo Fraga, que presidiu a Fundação Memorial Padre Cícero até o final do ano de 2012. As peças que compõe o projeto teriam sido adquiridas através de doações.

Mais informações:


Secretaria de Cultura e Romaria de Juazeiro do Norte
Memorial Padre Cícero, 1º andar.
Telefone (88) 3512- 3380
Praça do Cinquentenário - Centro

Fonte: Diário do Nordeste

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