Espécie nociva de coral chega ao litoral do Ceará e ameaça ecossistema marinho


O coral-sol, considerado uma espécie invasora de coral e capaz de gerar danos econômicos e ambientais, chegou ao litoral do Ceará. É o que aponta uma colaboração entre pesquisadores do Instituto de Ciências do Mar (Labomar) da Universidade Federal do Ceará (UFC) e mergulhadores. 

Na última semana, a espécie foi vista em um navio naufragado na Praia do Pecém, em São Gonçalo do Amarante, na Grande Fortaleza. A primeira notificação do coral no estado, porém, aconteceu na região Norte, no município de Acaraú. Segundo explica o professor do Labomar Marcelo Soares, a espécie causa prejuízos pelo fato de competir com animais nativos e consumir a biodiversidade que atrai a pesca e o turismo de mergulho.

Conforme esclarece Marcelo, o coral-sol passa a ocupar espaços que deveriam ser de organismos locais, como moluscos, algas e até uma espécie de esponja encontrada apenas no Ceará. Como não consegue sobreviver por muito tempo na água, se dissipa nos cascos das embarcações. A proximidade do litoral, no entanto, preocupa os cientistas pela possibilidade de o animal alcançar corais locais, se alastrando com mais facilidade. 

“Se entrar nessas áreas naturais, vai impactar profundamente a pesca e o turismo – fora o funcionamento da reprodução de uma série de espécies que a gente desconhece”, afirma Marcelo Soares, ressaltando que o Parque Estadual Marinho da Pedra da Risca do Meio, um dos principais pontos de mergulho do estado, localizado em Fortaleza, guarda espécies que só estão no Ceará. 

Controle da espécie 
Elaborado em junho de 2018, o Plano Nacional de Prevenção, Controle e Monitoramento do Coral-sol visava organizar as informações sobre a espécie e estabelecer estratégias para controlar o invasor. Mas o coral está no Brasil desde a década de 1980, período em que foi avistado em, pelo menos, 20 municípios do litoral de Santa Catarina até o trecho de mar cearense. 

“Um método que está sendo utilizado no Rio de Janeiro é com mergulhadores que usam martelos e talhadeiras e vão arrancando os corais. Inclusive, pescadores também auxiliam e vão vender esses corais limpando o ambiente, e ainda têm um ganho financeiro fazendo algumas coisas para vender como artesanato”, explica Marcelo Soares. 

No Ceará, contudo, a atividade é arriscada, pois, como os navios estão a profundidades entre 25 e 30 metros, a propagação do animal pode acontecer no processo de retirada. “Tem uma discussão sobre o uso desses materiais porque, para alguns, quando você usa o martelo para retirar esse coral, ele fica estressado e se reproduz”, acrescenta.

Outra forma de controle consiste em envelopar os navios contaminados com uma espécie de plástico que mata vários animais. Para Marcelo, a estratégia mais eficaz seria o uso da biotecnologia para desenvolver algum micro-organismo que elimine apenas o coral-sol. 

O analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Lívio Gurjão, diz que ainda não há normatização para evitar a fixação dos corais na estrutura de embarcações, apenas o uso de tintas anti-incrustantes ou a remoção física dos organismos aderidos a dispositivos submersos. 

Segundo ele, o Instituto está em permanente contato com o Labomar para acompanhar a dispersão da espécie exótica invasora. Paralelamente, o órgão visitou alguns municípios do litoral oeste do Ceará, “onde foram contactados pescadores e solicitado que fosse comunicada qualquer nova ocorrência da espécie”, disse. 

O G1 entrou em contato com a Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Ceará (Sedet) solicitando dados sobre cultivos pesqueiros nos municípios de Acaraú e São Gonçalo do Amarante. Entretanto, o órgão informou que não conseguiria apurar as informações até a publicação desta reportagem.                             (G1 CE)

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