Grupo no Ceará atende vítimas de violência doméstica online durante quarentena


Há uma semana a Associação Marta oferece suporte jurídico e psicológico para mulheres vítimas de violência doméstica no Ceará. O serviço Marta Escuta conta com uma rede de voluntários que atendem gratuitamente via Instagram, em três horários: de segunda a sexta-feira, das 8h às 12h, das 13h às 17h e das 18 às 22h. A ação deve seguir até o próximo dia 28 e atende somente no Estado.

Um levantamento do Núcleo de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher (Nudem) de Fortaleza, apontou que do dia 23 de março até esta 30 de abril, foram realizados 288 procedimentos pelas defensoras públicas e colaboradoras da equipe psicossocial deste núcleo. Noventa porcento dos casos de violência contra a mulher atendidos pelo órgão aconteceram na casa da vítima.

A preocupação com o aumento de casos foi o pontapé para o atendimento virtual, de acordo com Damares Ralley, fundadora e diretora executiva da Associação Marta.

“As mulheres são maioria nos empregos informais e em outros vários setores que foram atingidos pelo coronavírus. Significa que elas ficam mais tempo em casa e, pela questão econômica, mais submetidas aos desmandos do agressor. O distanciamento da família também aumenta a sensação de impunidade dele porque a mulher está isolada”, explica.
Apesar do Marta Escuta ser recente, a Associação funciona desde o ano passado. O projeto aborda violência doméstica de maneira didática nas escolas. “Levamos para sala de aula as diferenciações de violência para mostrar que não é só a física, existe a psicológica, a sexual. É preciso mostrar essa diferenciação”, pensa Damares.

Com a chegada do isolamento social no Ceará, que segue até o próximo dia 20, a equipe de organizadoras, formada por oito mulheres, percebeu no Instagram uma ferramenta poderosa para permanecer em atividade e continuar falando sobre violência doméstica. “É uma oportunidade pelo tempo que as pessoas estão passando em redes sociais de oferecer esse tratamento especializado e gratuito”, aponta a fundadora.

Além das organizadores, a campanha conta com um grupo de voluntários atuantes, entre advogadas e psicólogas. O sigilo é garantido durante todo o atendimento. No primeiro momento, a interessada precisa enviar, via caixa de mensagens no Instagram do projeto, o o serviço que deseja receber: “Quero assessoria”, para a suporte jurídico; “Quero escuta solidária”, para atendimento psicológico ou “Quero ambos” para receber ajuda psicológica e judicial.

Para preservar a integridade das mulheres, a rede oferece três horários de atendimento, cada um com uma psicóloga, uma advogada e uma gerente plantonistas. É uma forma de preservar a segurança da atendida. “Serve para escolher a melhor hora que ela está sozinha, distante do agressor. Aí, o profissional de plantão vai entrar em contato com ela”, informa Damares.

Medidas rígidas de conduta são seguidas para oferecer conforto durante a triagem. O cuidado começa no momento da mensagem. “A mulher que está sendo atendida só fala sobre o assunto uma vez, para evitar que ela repita para várias pessoas”, reforça a diretora. Somente após o primeiro contato por aplicativo que as mulheres são encaminhadas para o serviço que procuram”, explica a diretora.

Mesmo a partir daí, a privacidade permanece como essencial. “Tudo acontece no sigilo. As psicólogas atendem por vídeo para que as conversas não sejam gravadas. As advogadas atendem por um perfil que não é divulgado”, explica Damares.

Apoio
Oferecer apoio psicológico é uma maneira de dar assistência para além do jurídico. “A escuta psicológica não necessariamente vai falar sobre a violência. Pode falar sobre um sentimento que a mulher está sentindo”, reforça a fundadora.

Vítimas que já romperam com o ciclo de violência continuam contempladas pelo projeto. “Não somente por causa do apoio jurídico, já que existe um intervalo para procurar o judicial. Mas porque uma situação de violência, por mais que ela acabe, continua gerando efeitos no seu psicológico”, aponta Damares.

Apesar de focar o atendimento no Ceará, a rede orienta mulheres de outros estados. “Juridicamente, é difícil, porque existem questões judiciais regionais. Mas se vier uma mulher de outro estado procurando ajuda, não vamos nos negar a oferecer assistência. Podemos orientar alguns procedimentos e oferecer ajuda psicológica”, avalia a diretora.

A campanha Marta Escuta trabalha com demanda e, por isso, já está com equipe completa. Mas, de acordo com a fundadora, caso o projeto sinta a necessidade, uma seletiva será aberta e divulgada no perfil do Instagram.

Foto: Reprodução/EPTV

Fonte: G1

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