‘Deixei tudo pra trás’, diz engenheiro que teve caminhonete soterrada após vazamento em tubulação em Jati


Um engenheiro que teve a caminhonete arrastada pela força da água e da lama, após o rompimento de um tubulação da barragem de Jati, interior do Ceará, lembrou os momentos de pânico durante o vazamento, ocorrido sexta-feira (21). Ninguém ficou ferido.

“Foi tudo muito rápido. Entre o tempo que cheguei na caminhonete e o momento que o material começou a entrar no pátio foi cerca de 10 segundos”, lembrou o engenheiro Ivanildo Araújo.

O incidente na barragem de Jati aconteceu quando parte da tubulação que recebe água do açude rompeu e começou a escavar estrutura pedregosa próxima à parede. A obra onde ocorreu o vazamento faz parte do Eixo Norte da transposição do Rio São Francisco, que foi inaugurado no dia 26 de junho pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

O engenheiro precisou abandonar caminhonete que estava, modelo Nissan Frontier, e entrar no carro de outro funcionário para fugir do local rapidamente. Ele correu para outro veículo em que os colegas já estavam em condição de fuga.

“No momento da ocorrência, fomos pegar os veículos e, quando tentei sair, outro carro atrapalhou. O carro estancou . Quando percebi já estava sendo carregado para o pátio. Foi tudo muito rápido. Eu saí correndo a pé e deixei tudo para trás. Outro colega estava esperando eu chegar no portão, aí entrei no carro e conseguimos sair”, destacou o funcionário.

O coordenador de obras e fiscalização do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), Tiago Portela, admitiu que o veículo foi arrastado e ainda não se sabe da localização, já que a prioridade é recuperar a talude rochosa que protege a parede da barragem.

“Até o momento a gente não encontrou. O motorista tentou manobrar pra sair. Ficou em pânico, entrou em outro carro e saiu junto. A camioneta ficou lá e acabou sendo levada”, disse.

Além do veículo, também são dados como totalmente perdidos os equipamentos eletrônicos de comando que estavam na casa de vigilância, arrastada pelas águas junto com a casa de máquinas, postes, cabos de alta tensão e gerador.

Retorno dos moradores
Duas mil pessoas precisaram deixar as residências após o vazamento no duto. Contudo, parte dos moradores retirados de casa devido ao vazamento foram autorizados a retornar ao local a partir desta quarta-feira (26), após inspeções na barragem.

De acordo com a a MDR, as inspeções após o início das obras atestaram a segurança da infraestrutura, que não oferece riscos à população. Pouco mais de 72 horas após o rompimento de um duto na barragem, mais de 50% das obras de recomposição foram concluídas e os trabalhos seguem em regime 24 horas.

“O Ministério do Desenvolvimento Regional e as empresas contratadas tomaram, desde o início, todas as providências para garantir a segurança e preservar as vidas das pessoas que vivem no entorno da barragem. Demos toda a assistência aos moradores após a evacuação e determinamos que fosse feito, de imediato, um trabalho de recomposição da estrutura”, disse o ministro Rogério Marinho.

Além dos trabalhos de recomposição do talude da barragem, o MDR apura a causa do rompimento da tubulação.

Obras
O ministério solicitou que relatórios técnicos sejam apresentados sobre cada etapa de funcionamento desde a última quinta-feira (20), quando foram abertas as comportas para passagem de água até a Barragem Atalho, primeiro dos seis reservatórios no trajeto até a Paraíba. Empresas responsáveis pela execução, testes e comissionamento da barragem tem até a próxima sexta-feira (28) o para entregar as informações.

A partir do material produzido e de reuniões com as companhias envolvidas no projeto, execução e operação da Barragem Jati, será possível avaliar as possíveis causas do rompimento. O Ministério também está iniciando um processo para contratação de uma consultoria independente, que deverá ser definido também até esta sexta-feira (28).

Sobre as causas, o engenheiro Tiago Portela afirmou que não foi encontrado nenhum indício de ação criminosa, mas insiste na cautela: “é prematuro falar”.

A gente sabe que o rompimento foi uma onda de pressão muito grande, agora o que provocou esse “golpe”. Vamos tentar uma empresa mais isenta possível, para não vir com vícios, e a gente saber exatamente o que ocorreu. Sabendo as causas (do rompimento), vamos buscar responsabilização e reparo dos danos à administração. Ela não pode ficar no prejuízo”, disse.

O rompimento da tubulação gerou uma tromba d’água com uma vazão até dez vezes superior ao liberado pela válvula. O estrago provocado na estrutura próxima à parede da barragem provocou enxurrada de lama e pedras que arrastou postes, gerador de energia, cabos de alta tensão, casa de vigilância, casa de válvula e até uma camionete de uma das empresas de engenharia contratadas. Funcionários conseguiram fugir em três carros.

Foto: Kid Júnior/SVM

Fonte: Portal G1 CE

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