Produção de uva aponta para retomada de crescimento no Ceará


A produção de uvas no Ceará, que foi iniciada ainda de forma tímida no fim da década de 1980, em Baturité e Tauá, cresceu ao ponto de alcançar 209 hectares em 2010, tendo Brejo Santo, no Cariri, como seu maior produtor (155 ha). A queda no volume das chuvas, no entanto, fez este setor ser abandonado por muitos agricultores.

No ano passado, o retorno das boas precipitações reanimou os produtores que, com apoio da Embrapa, retomaram a cultura. Em apenas dois anos (2019 e 2020) a área de plantio já cresceu cinco hectares em comparação a 2018, segundo dados do IBGE. Para 2021, a estimativa é de continuidade na expansão.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) tem protagonismo nessa retomada. Ela desenvolveu uma nova variedade de cultivo da uva, batizada de ‘Vitória’, sem semente e ofertou aos produtores.

Em Mauriti, o agrônomo Antônio Leite Araújo, 50, tentou investir no cultivo da uva por nove anos (2002-2011), mas foi vencido após baixa na produção. Agora, com a nova variedade, resolveu apostar novamente e tem colhido bons resultados. “A variedade que tinha na época, a Itália, dava muita mão de obra e era mais suscetível a doenças. Como perdia a safra com facilidade, a banana passou a ser mais interessante pra mim”, lembra.

O investimento atual para plantio de uva em um hectare é de R$ 40 mil, cujo lucro estimado da primeira safra está em R$ 50 mil. Diante dos bons resultados, ele planeja ampliar a produção para 5 ha até 2025.

Expansão

O município de Barbalha é outro que está na rota do crescimento. Em 2014, eram apenas cinco hectares, hoje possui a maior área plantada do Ceará, com 11 hectares. O agricultor José Edelmo dos Santos, 35, foi um dos que aproveitou os últimos dois anos com boas chuvas no Sertão para ampliar a produção. “Com dez meses, já estava colhendo. Consegui tirar 80 caixas de 20 quilos. Até agora tá dando certo, vou ter retorno”, enfatiza. Cada caixa de 20 quilos é vendida entre R$ 90 a 100.

Além das sementes geneticamente melhoradas que favorecem os produtores de regiões mais secas, como o Ceará, eles contam com acompanhamento específico. Técnico em agropecuária, Francisco Iran de Andrade contabiliza 12 produtores assistidos em Barbalha.

“Ela (a uva trabalhada na região) é mais voltada ao consumidor final, porque não tem semente. É doce. O consumo de água também diminui em relação às outras culturas, como banana, coco, e é feita por gotejamento”, detalha.

Em Russas, no Vale do Jaguaribe, o regresso da cultura já se faz notável. O mercado do Município, que soma cinco hectares, atende 80% o consumidor local e cerca de 20% segue para Fortaleza. A demanda, no entanto, tem sido maior que a oferta, o que sugere projeção de crescimento para os próximos anos.
“Não tem como atender municípios vizinhos, por isso, tem margem para crescer. Espero plantar mais três hectares”, antecipa Marciano Bezerra. Lá, a caixa de 20 quilos da variação Vitória é vendida a R$ 100, já as demais ficam por R$ 80. “A uva é uma cultura que a vida útil dela é de vários anos. Comercialmente rende por 14 a 15 anos”, exalta o produtor, ao mostrar-se otimista.

Pesquisa

Coordenador do Programa de Melhoramento Genético Uvas do Brasil da Embrapa Uva e Vinho, no Rio Grande do Sul, João Dimas Garcia Maia, explica que estas espécies que têm feito sucesso no Nordeste, como a Vitória, Isis e Núbia, são fruto de um trabalho de melhoramento genético de mais de 40 anos, porém, só foram apresentadas e lançadas em 2013. Nos últimos anos, chegou ao alcance dos produtores cearenses.

“Estas variedades se adaptaram bem a diferentes climáticas, mas no Semiárido se destacam ainda mais, porque no clima mais seco pode até ter duas safras e meio. A planta, ao contrário do que muita gente pensa, precisa de muito sol, muita luz e água, mas só no solo para irrigação”.

A Embrapa, hoje, fornece estas variedades aos viveiros de mudas credenciados e licenciados, que recebem as plantas originais, com boa sanidade para multiplicar e vender direto ao produtor.

Foto: Antonio Rodrigues

Fonte: Diário do Nordeste

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