Secretaria da Saúde busca propostas de ferramentas para prever curva de infecções por Covid-19 no Ceará


No Ceará, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa), atualmente, não usa nenhum modelo de análise para prever a curva de casos da Covid-19 que poderão ocorrer no futuro, método chamado modelo preditivo.

O que tem sido feito são análises descritivas dos dados do IntegraSUS, plataforma da Sesa, na qual consta, dentre outros, o número de pessoas contaminadas, mortes, internações e recuperações nas 184 cidades cearenses.
Essas informações sobre as semanas anteriores orientam a tomada de decisão do governo sobre a reabertura das atividades econômicas e sociais.

Desde outubro, a Sesa está com um concurso aberto para acolher propostas de tecnologias, que façam uso de modelos matemáticos e inteligência artificial, para entender o comportamento do coronavírus no estado e prever o número de novas infecções nos próximos períodos. A seleção segue até dia 19 de novembro

Conforme o IntegraSUS, até segunda-feira (9), o Ceará registrou 278.608 casos de Covid e 9.404 mortes devido à doença.

O uso desses dados, explica o coordenador de Tecnologia da Informação e Comunicação da Sesa, Ramsés Felipe de Oliveira, permite a realização de análises descritivas e é por meio desta avaliação que, se decide, por exemplo, se haverá avanço ou o recuo na reabertura das atividades em distintas regiões do estado. “Agora, quanto às análises preditivas, nenhuma está sendo utilizada ainda. Mas em estudos que estão acontecendo dentro da Secretaria da Saúde e a tendência é que a gente melhore esses estudos para validá-los”, afirma.

No início de outubro, a Sesa lançou o concurso IntegraSUS Analytics que, conforme o edital tem, dentre os objetivos principais “entender o comportamento do SARS-CoV-2 no Ceará para prever o número total de pessoas infectadas, considerando a dinâmica populacional do processo saúde doença e disponibilizar informações para a sociedade, para ajudar na tomada de decisão dos Governos municipal e estadual”.

A ideia do concurso é estimular pesquisadores a proporem modelos e tecnologias que utilizam cálculos matemáticos e estatísticas nos quais se possa visualizar o controle do cenário epidemiológico. As propostas podem vir a ser incorporadas à rotina da Sesa.

Mas, conforme Ramsés, não é possível assegurar que a pasta terá um produto ao final do concurso. Contudo, o edital garante que os participantes devem estar cientes de que as ferramentas propostas poderão ser utilizadas pela gestão pública para mensurar, por exemplo, as novas infecções no Estado. Bem como, a Sesa poderá, a partir das propostas, estruturar um modelo, para uso posterior. O resultado deve sair no dia 19 de dezembro.

“Nós criamos modelos básicos, não são modelos oficiais, a gente só usou técnicas. Nesse momento a gente quer trazer o conhecimento dos especialistas que possam estar usando essas outras variáveis e a partir daí é que a gente monta um modelo da Secretaria da Saúde do Estado”, informa Ramsés.

Conexão entre academia e gestão pública

Iniciativas desse tipo, que fazem uso de dados aplicados à saúde, geralmente, são desenvolvidas por epidemiologistas, estatísticos e cientistas de dados.

O professor do Departamento de Engenharia de Informática da Universidade Federal do Ceará (UFC), André Férrer de Almeida, avalia que “essa conexão entre a área da saúde e universidade se intensificou com a pandemia exatamente pela necessidade que os órgãos do governo têm de fazer previsão”. Para ele, o desenvolvimento de análises matemáticas com previsões sobre a dinâmica da pandemia comprovam que “a universidade soube se mobilizar e aproveitar o momento”.

Editais de governos, de universidades e instituições fomentadoras de pesquisa, opina ele, refletem essa aproximação. “A pandemia fez as instituições perceberam a necessidade de a ciência estar junta. Nesse caso é a conexão entre a linguagem matemática e a área de saúde”.

Ele destaca que o uso dos modelos matemáticos em favor da saúde só é possível graças a dois fatores: a disponibilidade de dados e o maior poder de processamento dos computadores atualmente. “Sem dados confiáveis não tem como validar esses modelos preditivos”, reforça.

O chamado modelo preditivo é uma espécie de função matemática que, quando aplicada a um volume expressivo de dados, pode identificar padrões e oferecer uma previsão do que pode ocorrer. No caso da pandemia de Covid, utilizar um modelo preditivo pode servir para embasar tomadas de decisões, de forma mais assertiva. Segundo o edital do concurso, esse tipo de iniciativa significa redução de custos para a aquisição de tecnologias e desenvolvimento de inovação na gestão pública. O documento diz ainda que com esse tipo de premiação “é possível utilizar a estratégia para o planejamento, construção de novas ideias e protótipos, implantação de novas tecnologias, avaliação e monitoramento”.

Variáveis

Nos modelos, a serem recebidos pela Sesa, os participantes podem utilizar dados do IntegraSUS e também informações públicas como as divulgadas pela Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos, que faz monitoramento global da pandemia. Em relação às dimensões que o modelo preditivo deve levar em conta, como casos, mortes, taxas de exames, recuperados, Ramsés explica que, cada proposição é específica para uma situação. Portanto, afirma ele, ainda não é possível dizer o que a proposta mais adequada irá considerar.

“Um exemplo, quando a gente mostrou num Fórum de saúde o modelo para prever os incidentes no Samu, treinando o modelo de 2018 para ele prever para 2019, usamos variáveis x, y e z. Um outro estudante pode pegar por município, dia e a quantidade que teve, com três variáveis, e ter uma assertividade muito boa. Então, teremos pessoas que vão pegar só a quantidade de casos confirmados por dia e tentar montar um modelo com isso, outras pessoas vão pegar números de internações, como a velocidade de um outro país pode influenciar na velocidade aqui do Ceará”, reforça ele.

Ramsés acrescenta que só é possível dizer quais são as variáveis mais importantes em um modelo quando se tem um formato treinado e com boa assertividade.

“Então, é justamente isso que a gente busca: trazer todo esse conhecimento, ter um modelo mais assertivo e, com isso, conseguiremos identificar o nível de importância de cada variável dessa”, explica.

Foto: AFP

Fonte: Portal G1 CE

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