Mães adiam matrícula, e busca por escolas privadas cai no Ceará em meio à pandemia de Covid-19


Divididas entre o receio de contaminação da Covid-19 nas aulas presenciais e as dificuldades enfrentadas pelos filhos no modelo a distância, mães têm compartilhado dúvidas na decisão de efetivar a matrícula escolar dos filhos, optando por adiar essa oficialização do ingresso na unidade de ensino.

A situação se reflete em um baixo número de matrículas nas escolas do Ceará, conforme o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino.

O cenário incerto da pandemia, sem previsão de retorno presencial para o retorno 1º e 2º de Ensino Médio, também influencia essa decisão, como é o caso da chefe de Recursos Humanos Cristiane de Oliveira Neves.

“Ainda não matriculei, porque está nessa incerteza de como vai ser daqui para frente. Isso (o retorno presencial) influi em várias coisas. Tem que acionar o motorista, se for presencial, ou garantir um outro aparelho eletrônico se continuar remoto”, explica.

Em 2020, sua filha Thaiane de Oliveira Neves, 14 anos, foi liberada para retornar presencialmente, por cursar o então 9º ano do Ensino Fundamental (EF). Porém, ainda na época, Cristiane decidiu por manter a filha no ensino a distância. Agora, neste ano, resta a dúvida se haverá o retorno presencial.

“Vão fazendo o plano para aumentar cada vez mais a quantidade de estudantes e tenho medo dela ficar contaminada ou contaminar alguém”, explica.

Para ela, uma determinação mais assertiva sobre a situação dos estudantes de ensino particular facilitaria o momento de tomar a decisão de matrícula. Apesar de todos os receios de sua filha ter se adaptado bem ao ensino à distância, confessa preferir as aulas presenciais. “O presencial é bem melhor, porque prestam atenção, mas com essas inseguranças, prefiro que fique on-line”, diz.

Riscos

Assim como Cristiane, a dona de casa Maria Eliete Ferreira, 41, também adiou a matrícula de seu filho, José Marllon Ferreira Nogueira, 7, que irá cursar o 2º ano do EF. Pelo fato do jovem ter diabetes e ser do grupo de risco, Maria manteve as aulas remotas, mesmo com a liberação do presencial no ano passado.

Porém, seu dilema se deve ao fato de Marllon ter apresentado dificuldades durante o ensino remoto, tendo problemas de concentração e de acompanhamento das atividades realizadas. “Ele não aprendeu a ler. Era para ele ter saído do primeiro ano lendo. A gente está preocupado como vai ser o segundo ano, se ele foi tão prejudicado pelo anterior”, comenta.

Por temer a contaminação pela Covid-19, a dentista Rosana Dias, 47, receava matricular o filho Gabriel Ximenes, 7, em meio ao cenário de constantes mudanças. No entanto, optou por efetivar a matrícula ainda em dezembro de 2020, decidindo por manter o filho no ensino remoto em 2021, mesmo com a liberação estadual. “Vejo que Gabriel não pode ficar fora da escola”, diz.

Dentre suas principais preocupações nas aulas presenciais há o medo do filho se contaminar e, consequentemente, trazer o vírus para casa. “Sou profissional da saúde e penso que pode ser que ele traga para mim e eu leve para os meus pacientes. Para eu não ser essa via de contaminação, faço essa opção de deixá-lo em casa”, explica, sendo também desejo de Gabriel continuar no EAD.

Impacto nas matrículas

Em 2021, as matrículas estão sendo abaixo do esperado para o período em estabelecimentos de ensino privado, de acordo com o coordenador da comissão de volta às aulas do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sinepe), Henrique Soárez. Ele avalia que a indefinição do Governo do Estado sobre a liberação de atividades educacionais prejudica o planejamento das famílias.

“De fato, as matrículas estão menores nesse momento, e a gente acredita que é um efeito temporal porque as famílias estão em casa esperando o que vai acontecer. Tão logo o Governo seja claro, específico de como isso vai acontecer daqui pra frente, as famílias vão responder e vamos seguir com a vida. Mas é péssimo o que está acontecendo nesse momento do ano”, declarou.

O diretor-executivo do Colégio Provecto, Osvaldo Campos, também percebeu o cenário de redução das matrículas. “O contexto da pandemia traz um percentual menor de matrículas sim, o que já era de certa forma esperado”, afirma. Porém, apesar disso, declara que as matrículas seguem ocorrendo com uma procura maior em comparação ao estimado.

Além disso, com a possibilidade de ensino híbrido, tendo parte das aulas remotas e outra presencial, pais e mães têm optado mais por essa modalidade. “Nenhuma criança pode ficar afastada de sala de aula. O que acontece, também é comprovado cientificamente e estatisticamente, que o percentual de contaminação nas escolas foi reduzido”, finaliza.

Foto: Camila Lima/SVM

Fonte: Portal G1 CE

Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem