‘Hoje foi o dia em que me reconheci mais ainda como mulher’, diz educadora social trans após mudar de nome e fazer novo RG em Juazeiro do Norte


O dia 6 de julho de 2021 tem um gosto diferente para a educadora social Jhully Carla de Sousa. A mulher de 26 anos conseguiu, ontem, solicitar o seu próprio RG após ter feito a retificação de prenome e gênero na cidade de Juazeiro do Norte, no interior do Ceará. Ela nasceu com o sexo masculino, mas desde jovem se reconhece como mulher. O documento só chega daqui a nove dias, mas a sensação é de, agora, poder ser oficialmente quem é há muito tempo.

“Enfrentei várias barreiras de preconceito, discriminação, da deslegitimação da minha identidade de gênero. Hoje, realmente, foi o dia em que eu me reconheci mais ainda, com a minha identidade em mãos, como mulher”, disse.

Jhully fez a solicitação do documento de identidade em uma unidade do Vapt Vupt de Juazeiro do Norte. Em decorrência da pandemia de Covid-19, o serviço está sendo realizado por meio de agendamento, mas a solicitação é confirmada após a presença da requerente à unidade no horário marcado.

Para a educadora social, o novo documento dá mais força para si e garante uma série de direitos: “nós sempre vamos enfrentar a barreira do preconceito, mas, com sua identidade na mão, você prova, mostra pra sociedade que você tem esse direito de ser reconhecida como mulher que é”.

Jhully se reconhece assim desde os nove anos. Quando criança, sabendo da sua identidade, ela conta que já demonstrava gestos e traços delicados, vestia roupas da mãe e brincava de boneca, características que ela associa ao seu próprio gênero. Seis anos depois, iniciou o processo de transição.

Nem todo mundo consegue

A retificação de prenome e gênero, porém, só ocorreu no último dia 7 de maio, após ter sido apadrinhada. Em março de 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizou pessoas trans a mudarem seus registros civis independentemente de decisão judicial ou procedimento de redesignação.

Desta forma, os cartórios passaram a receber solicitações de retificações. Contudo, o serviço ainda é pago e nem todo mundo tem condições de fazê-lo. A Defensoria Pública do Ceará realiza, em Fortaleza, acompanhamento de solicitações quando há hipossuficiência, ou seja, quando a pessoa assistida não tem condições financeiras de realizar o procedimento. O órgão encaminha a demanda ao cartório e representa a pessoa administrativamente.

Atualmente, Jhully atua como educadora social voluntária na Casa da Diversidade Cristiane Lima, a primeira deste formato no Cariri cearense. O espaço é voltado para acolhimento e atendimento de demandas da população LGBTQIA+. A ideia do projeto é fortalecer a cidadania deste público por meio da promoção da educação, saúde e direitos humanos.

No dia da retificação, há exatamente dois meses, Jhully fez uma postagem nas redes sociais na qual ela se despedia do seu eu anterior. E pediu, com esmero, para que ele não fosse repentinamente. O que transparece é a certeza de que ambos se encontraram e formaram quem ela é hoje — se houver algum tipo de distinção.

“Você sempre vai estar, guardado onde ninguém vai te tirar. No fundo do meu mais puro olhar”, despediu-se.

Foto: Daniela Goulart/Abemavi

Fonte: Portal G1 CE

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