Fiocruz Ceará rebate divulgação de mutação ‘Gama-plus’ e diz que não há evidências de sublinhagem causar Covid com maior gravidade


O coordenador geral da Rede Fiocruz de Vigilância Genômica no Ceará, Fábio Miyajima, afirmou, nesta sexta-feira (13), que não procede o termo “Gama-plus” para se referir a uma das mutações do coronavírus, e não há, inicialmente, motivos para alarde sobre tal mutação. Segundo o especialista, o vírus é denominado oficialmente de P.1.7 e não há consideração científica em denominá-la de “Gama-plus”.

Além disso, Miyajima afirma que foram identificadas dezenas de amostras de sublinhagens da variante Gama (P.1), identificada inicialmente em Manaus, em 2020, as quais estão sendo monitoradas, mas ainda não há indícios científicos ou epidemiológicos de que elas causam quadros mais graves de Covid-19.

A Rede Dasa, um grupo de hospitais particulares, publicou um relatório, nesta quinta-feira (12), afirmando que foram identificadas 11 amostras com a chamada mutação “gama-plus”; uma delas seria de um paciente do Ceará. A Dasa, por meio do Projeto Genov, afirma que “a denominação “plus” tem sido utilizada consensualmente em todo o mundo pela comunidade científica para nomear mutações em posições relevantes do genoma do vírus, a exemplo do que acontece com a Alpha-plus, Delta-plus”.

A mutação, conforme o relatório, é a P681H, que possui o aminoácido histidina na proteína spike. A proteína spike do coronavírus é a responsável por conectar o vírus às células humanas. Segundo a Dasa, a mutação “é convergente com características da [variante] delta”. O Ceará já registrou 16 casos da variante delta, sendo um deles considerado de transmissão comunitária. A Fiocruz, contudo, diz que a mutação P681H é uma mutação correspondente à variante alfa, e não da variante delta.

De acordo com Miyajima, a mutação, na verdade, é uma sublinhagem da variante Gama (P.1), catalogada no sistema internacional como P.1.7. Conforme o coordenador da Fiocruz, ela não é novidade no Brasil, e já foram identificadas dezenas de amostras no Ceará. O termo “Gama-plus”, segundo ele, é uma “designação que não foi aceita pela comunidade científica”.

“Temos dezenas dessa sequência já identificadas aqui no Ceará, a Fiocruz já emitiu relatórios técnicos. A gente não precisa criar alarde por causa de uma situação”, afirma Miyajima.

O especialista garante que ainda não há estudos suficientes para dizer que essa sublinhagem provoca quadros mais graves ou é mais transmissível: “Essa sublinhagem já existe aqui, e não existe informação nenhuma se ela é mais virulenta. Se houver, nós vamos ser os primeiros que vão avaliar”.

Miyajima afirma que mutações convergentes podem começar a aparecer mais frequentemente entre as diversas variantes de preocupação (Beta, Alfa e Delta) em posições similares e que, por essa evolução ocorrer na proteína spike, “ligou-se o alerta”. “É preciso monitorar, e a gente fica de olho nessas mutações, pois existe uma tendência de evolução”, complementa.

Descrédito

O coordenador da Fiocruz questionou a atuação da Rede Dasa e considerou a divulgação do material como um “desserviço ao nosso sistema de saúde”. Miyajima disse que “o fato de a variante ter adquirido uma mutação a mais ou a menos não dá o direito de fazer ‘marketing sensacionalista’ com informações marqueteiras de uma designação ‘plus’ que não existe”.
O pesquisador afirmou que a Rede Genômica da Fiocruz irá fazer uma reclamação junto ao Ministério da Saúde com relação ao relatório da Rede Dasa.

Vigilância genômica

A Rede Dasa, por sua vez, afirma que a variante que denomina de Gama-plus (P681H) é uma variante Gama (P.1) com uma mutação adicional associada a uma modificação importante na função biológica do SARS-CoV-2, o coronavírus. Ela foi descrita primeiramente no Brasil pela própria Fiocruz em 3 de julho de 2021.

Ressalta que o relatório do projeto Genov, gerenciado pela Dasa, não atribui maior gravidade à mutação P681H e confirma que das 11 amostras de maio que registraram a mutação Gama-plus, cinco são do estado de Goiás, duas do Tocantins, uma do Mato Grosso, uma do Ceará, uma de Santa Catarina e uma do Paraná.

“O Genov é um projeto científico que tem como objetivo acompanhar a evolução genética do SARS-CoV-2 no Brasil, aumentando o conhecimento sobre o vírus e contribuindo com a sociedade em diferentes frentes. Todas as informações do projeto são de domínio público e depositadas, também, no GISAID, plataforma internacional que reúne dados genômicos de vírus influenza e coronavírus”, diz a Rede Dasa.

Foto: Getty Images via BBC / Fonte: Portal G1 CE

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