Mãe e filha mentem que homem estuprou crianças e ele acaba morto


A Polícia Civil do Espírito Santo (PCES) divulgou, nesta quarta-feira (28/10), a prisão de duas mulheres que acusaram falsamente um homem de estuprar crianças para incitar o linchamento dele, na Grande Vitória. A vítima foi morta a pedradas, pauladas e enxadadas. O crime ocorreu em 9 de junho, quando Bruna Hoffman, de 26 anos, e a mãe, Lucineia Pereira da Silva, de 50, espalharam a mentira contra Miguel Inácio Santos, de 49 anos, após uma briga entre os três.
“Era uma mentira criada pelas duas. A vítima era inocente, um rapaz trabalhador. A família dele sofre porque na época a informação do estupro se espalhou pelo bairro e muitos, até hoje, acreditam”, esclarece Daniel Fortes, delegado responsável pelo caso. Para esclarecer o caso para a população, a Polícia Civil promoveu uma entrevista coletiva onde contou os verdadeiros acontecimentos.
Miguel e Bruna se conheceram por meio de um aplicativo de relacionamento, usado pela mulher trans para divulgar serviços sexuais. O homem marcou um programa, que ocorreu na casa da mãe, Lucineia, no bairro Costa Dourada. Foi na hora do pagamento que o desentendimento começou.
“No aplicativo, eles combinaram um valor, mas na hora de pagar, Bruna falou um preço mais alto. Ela disse, em depoimento, que, na verdade, o homem pagou R$ 200 a menos, mas nossa investigação apurou que foi a Bruna que não respeitou o combinado”, disse o delegado.
Os dois discutiram, mas Miguel pagou o valor pedido pelo programa e deixou o local. Bruna também saiu de casa logo depois, para ir a outro compromisso. Cerca de 40 minutos depois, Miguel voltou ao local.
“Ele se sentiu coagido por causa da questão dos valores, acreditamos que esse tenha sido o motivo da revolta dele. De volta para a casa, ele arremessou uma pedra na janela e quebrou a porta. A mãe de Bruna estava lá dentro”, revelou Daniel.
Lucineia e Miguel discutiam quando Bruna voltou para a casa e viu a cena. De imediato, ela pegou uma madeira que estava no quintal e foi em direção ao homem, que começou a correr para fugir dela.
Foi nesse momento que a mulher teve a ideia fatal que incitou o linchamento. Ao ver que não iria alcançá-lo, Bruna começa a gritar, para pessoas que estavam na rua, que ele era um estuprador que abusou de crianças do bairro.
“No depoimento, ela deixa claro que fez isso porque viu que não ia alcançar a vítima. A população consegue pegar a vítima, começa a agredi-la, Bruna e a mãe alcançam eles e participam da agressão. Bruna estava com a madeira e a mãe de posse de uma enxada. Todos agrediram a vítima com pauladas, pedradas e enxadadas”, revela o delegado. Cerca de 10 pessoas participaram do crime.
O corpo do homem foi abandonado em um matagal perto do local e só foi encontrado por volta das 16h, quando a Polícia foi acionada. Ele tinha marcas de pedradas na cabeça e ferimentos por todo o corpo.

A polícia chegou as suspeitas com auxílio de denúncias anônimas

O delegado Daniel Fortes afirmou que denúncias recebidas pelo 181 foram fundamentais na investigação. Depoimentos de moradores do local também auxiliaram na resolução do caso. Bruna e Lucineia foram presas preventivamente em 22 de setembro.

“Elas confirmam que participaram da agressão mas tentam minimizar a participação no homicídio. A mãe fala ‘ah eu só dei uma enxadada’. A Bruna diz que não correu atrás dele, mas a mãe a contradiz, porque afirma que elas estavam juntas na agressão”, conta o delegado.

O policial lamentou o episódio e o envolvimento de pessoas que se dispuseram a cometer um crime fatal mesmo sem saber se a acusação de estupro era verdadeira. “A população, fazendo justiça pelas próprias mãos, comete um erro gravíssimo de matar um rapaz inocente. Ele nunca cometeu nenhum estupro, a única coisa que ocorreu foi um desacordo comercial”, diz.

Esse é o segundo caso de linchamento por falsa acusação que ocorre no Espírito Santo apenas neste ano. Em julho, um mês após o assassinato de Miguel, um idoso de 74 anos foi linchado no bairro Central Carapina, também na Grande Vitória.

A conclusão do inquérito mostra que Antônio Batista Fonseca também foi acusado falsamente por quatro pessoas de abusar sexualmente de duas crianças. A ideia foi da ex-namorada da vítima, mãe das crianças, que quis se vingar após Antônio pedir de volta um celular que deu de presente para ela.

Por: Estado de Minas

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