
O acĂșmulo no cĂ©rebro de uma proteĂna chamada beta-amiloide Ă© o primeiro passo para o desenvolvimento do Alzheimer. Cientistas em todo o mundo investigam maneiras de se eliminar a proteĂna antes do inĂcio dos sintomas da doença.
Em um estudo recente, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, nos Estados Unidos, apontam um novo caminho potencial para prevenir a demĂȘncia associada ao Alzheimer.
Os especialistas identificaram uma forma de eliminar resĂduos da proteĂna do cĂ©rebro de camundongos com maior eficiĂȘncia. Segundo os pesquisadores, essa mesma estratĂ©gia tambĂ©m pode ser eficaz para o tratamento de outras doenças neurodegenerativas caracterizadas pelo acĂșmulo de proteĂnas tĂłxicas, como a doença de Parkinson. Os achados foram publicados no periĂłdico cientĂfico Brain.
Para chegar aos resultados, os cientistas analisaram o processo de sintetização de diferentes proteĂnas no organismo. No processo de formação, um fenĂŽmeno conhecido como “readthrough” estĂĄ associado Ă criação de proteĂnas com formas estendidas, que podem funcionar de maneira diferente das regulares.
Eles entĂŁo investigaram se a forma longa de uma proteĂna chamada aquaporina 4 se comportava de outro modo no cĂ©rebro. A forma longa foi encontrada nas extremidades dos astrĂłcitos, uma espĂ©cie de cĂ©lula de suporte que ajuda a manter a barreira entre o cĂ©rebro e o resto do corpo. A parte final dos astrĂłcitos envolvem pequenos vasos sanguĂneos no cĂ©rebro e ajudam a regular o fluxo de sangue.
Este Ă© justamente o ponto-chave da pesquisa. As extremidades dos astrĂłcitos podem ajudar a manter o cĂ©rebro livre de proteĂnas indesejadas, liberando os resĂduos do ĂłrgĂŁo para a corrente sanguĂnea, de onde podem ser transportados e eliminados.
A partir da hipĂłtese de que o aumento na quantidade de aquaporina 4 estendida poderia aumentar a eliminação de resĂduos, o pesquisador Darshan Sapkota professor-assistente de ciĂȘncias biolĂłgicas na Universidade do Texas, rastreou 2.560 compostos com capacidade de aumentar a leitura do gene da proteĂna.
Ele encontrou dois: apigenina, uma molĂ©cula encontrada na camomila, salsa, cebola e outras plantas comestĂveis; e a sulfaquinoxalina, um antibiĂłtico veterinĂĄrio usado nas indĂșstrias de carnes e de aves.
Para descobrir a relação entre a aquaporina 4 longa e a eliminação de beta-amiloide, o pesquisador e o professor de genética e psiquiatria Joseph Dougherty, da Universidade de Washington, se juntaram aos cientistas John Cirrito e Carla Yuede, da mesma instituição.
Estudos em camundongos
No estudo, foram utilizados camundongos geneticamente modificados para desenvolver altos nĂveis da proteĂna beta-amiloide no cĂ©rebro – simulando o que acontece em pacientes com Alzheimer.
Os animais receberam quatro tipos diferentes de tratamento experimental: com apigenina, com sulfaquinoxalina, com um lĂquido inerte ou um composto placebo que nĂŁo tem efeito sobre o “readthrough”.
Os achados indicaram que aqueles tratados com apigenina ou sulfaquinoxalina eliminaram beta-amiloide significativamente mais rĂĄpido do que aqueles tratados com qualquer uma das duas substĂąncias inativas.
“HĂĄ muitos dados que dizem que a redução dos nĂveis de amiloide em apenas 20% a 25% interrompe o acĂșmulo de amiloide, pelo menos em camundongos, e os efeitos que vimos foram nesse estĂĄdio”, disse Cirrito em comunicado. “Isso me diz que essa poderia ser uma nova abordagem para o tratamento de Alzheimer e outras doenças neurodegenerativas que envolvem acĂșmulo de proteĂnas no cĂ©rebro. NĂŁo hĂĄ nada que diga que esse processo Ă© especĂfico para beta amilĂłide. Pode estar aumentando, digamos, a depuração de alfa-sinucleĂna tambĂ©m, o que pode beneficiar pessoas com doença de Parkinson”, completa.
Os pesquisadores alertam que a sulfaquinoxalina nĂŁo Ă© segura para uso em pessoas. JĂĄ a apigenina estĂĄ disponĂvel como suplemento dietĂ©tico, mas nĂŁo se sabe o quanto chega ao cĂ©rebro. Cirrito adverte que o consumo de grandes quantidades de apigenina como tentativa de evitar a doença de Alzheimer nĂŁo Ă© recomendado.
“Estamos procurando algo que possa ser rapidamente traduzido para a clĂnica. SĂł saber que Ă© alvo de uma droga Ă© uma dica Ăștil de que haverĂĄ algo por aĂ que podemos usar”, disse Sapkota.
Foto: Getty Images/Morsa Images / Fonte: CNN Brasil
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