Ganhador da Mega-Sena morto não escondia fortuna e manteve hábitos simples


Investigadores da Polícia Civil acreditam que a morte de Jonas Lucas Alves Dias, de 55 anos, em Hortolândia, no interior de São Paulo, foi motivada pelo prêmio de R$ 47,1 milhões que ele ganhou sozinho na Mega-Sena em setembro de 2020. O aposentado foi encontrado com sinais de espancamento perto da Rodovia dos Bandeirantes (SP-348) na quarta-feira (14). A polícia ainda não prendeu nenhum suspeito do crime.

Jonas, ou Luquinha, como era conhecido no Jardim Rosolém, não era do tipo que ostentava ser milionário. Pelo contrário. Depois do prêmio, continuou a viver na mesma casa, andava com bermuda, camiseta e chinelo. Era sempre visto nas ruas do bairro com um saquinho de ração para os cachorros. Era figura carimbada no bar do Francisco, na Rua Papa João Paulo I, onde tomava meia dose de conhaque.

Ele era um milionário simples, mas que não fazia segredo da fortuna que tinha ganhado. Ele se referia ao prêmio como “uma aposentadoria gorda”. Seu único grande investimento foi a aquisição de uma chácara em Conchal, também no interior, relatam os amigos.

A rotina

Nos últimos dias, ele manteve a rotina de sair para fazer uma caminhada pela manhã e parar para falar com os vizinhos. À tarde, parava nos bares. Na segunda, ele foi no chamado Bar do Peixe e na padaria Peter Pão.

Quando estava em casa, gostava de acompanhar o noticiário policial. Ele conservava os mesmos hábitos da época em que trabalhava como vendedor em uma loja de material de construção em Campinas e nem sonhava em se tornar um milionário.

O crime
Na terça-feira, ele não voltou da caminhada diária. Os criminosos retiraram R$ 18 mil por meio de transferências e pix e R$ 2 mil em dinheiro na agência onde Jonas Lucas tinha conta. Houve uma tentativa de transferência no valor de R$ 3 milhões, que não foi autorizada. O cartão de débito foi levado pelos suspeitos.

Luquinha foi encontrado na quarta-feira. Ele foi socorrido por uma ambulância da concessionária da rodovia e encaminhado para o Hospital Mário Covas, mas não resistiu. A causa da morte foi traumatismo cranioencefálico.

A polícia trabalha com a hipótese de um crime premeditado, mas ainda não há suspeitos. “Estamos mantendo sigilo para não comprometer as investigações, mas é possível afirmar que os bandidos sabiam que ele tinha um bom numerário”, afirma Juliana Ricci, delegada da Divisão de Investigações Criminais (Deic) de Piracicaba, que atua em conjunto com os policiais de Hortolândia

Os policiais não acreditam em quadrilha especializada e já percorrem algumas pistas. As principais são os destinatários das transferências bancárias.

Imagens das câmeras da rodovia teriam captado o momento em que Luquinha foi deixado perto da Rodovia Jornalista Francisco Aguirre Proença. A perícia não encontrou vestígios na estrada por causa da chuva da madrugada. O delegado João Jorge Ferreira, titular de Hortolândia, afirma que um celular foi apreendido. A polícia investiga a forma como ele foi abordado e quantas pessoas estão envolvidas.

Amigos exaltam bondade
O crime bárbaro chocou a região. Familiares não quiseram dar entrevistas e cogitam deixar a cidade de 220 mil habitantes. Como ele não era casado e não tinha filhos, os herdeiros são a irmã, com quem morava, e outro irmão. Informações sobre o velório e o enterro também foram divulgadas de forma desencontrada ao longo do dia. O velório será nesta sexta em Hortolândia e o enterro será em Sumaré – o horário não foi divulgado.

Os vizinhos mais próximos ocupavam as calçadas com os olhos vermelhos. Os mais chegados relataram como Jonas Lucas era uma pessoa caridosa. O ex-vigia Jonas Rocha, de 68 anos, conta que ele havia comprado medicamentos para um amigo em tratamento de câncer. Outras histórias, um pouco mais controversas, apontam que ele teria dado um caminhão no valor de R$ 450 mil para um amigo de infância.

Além das lembranças de uma pessoa bondosa, os vizinhos relatam o estranhamento diante da falta de discrição em relação ao prêmio. “Todo mundo achava perigoso ele andar sozinho com uma história tão conhecida de ter ganhado na loteria”, diz a balconista Jane Ferreira, de 36 anos. (Estadão Conteúdo)

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