Romaria do Caldeirão da Santa Cruz volta a acontecer no Crato


Neste domingo (25), centenas de católicos madrugaram para comparecer à romaria do Caldeirão da Santa Cruz, no Crato. O Caldeirão do Beato José Lourenço está localizado na zona rural do município, a aproximadamente 32km do centro da cidade. E a celebração acontece há 22 anos, como forma de resgatar a história do beato paraibano e de lembrar das vítimas que morreram no local.

A romaria teve início em setembro do ano 2000. Anualmente, muitos romeiros vão ao lugar neste mês para lembrar do que aconteceu na comunidade e fortalecer a memória e as discussões acerca do espaço, que historicamente é marcado pela defesa da agricultura familiar e do meio ambiente.

Em 2020 a romaria foi cancelada por causa da pandemia de Covid-19. Já no ano passado, pode ser realizada de forma bem limitada, ainda com as restrições. Este ano, o local voltou a receber fiéis sem a limitação de público. O tema abordado neste ano é “O Caldeirão da Santa Cruz do Deserto e o bem viver”.

“O Caldeirão é um lugar onde se deu a expectativa de uma nova sociedade, onde a fome é superada. Era o fim do descaso com os retirantes da seca, aqui eles encontraram abundância”, afirma o padre Vileci Vidal.

Para os fiéis, o beato José Lourenço é considerado santo, assim como também se referem a Padre Cícero.

“Através dele que eu alcancei uma graça. Tenho muito problema na mandíbula, e já melhorei muito. Por conta disso, venho agradecer”, diz a dona de casa Antônia Justino.

História do Caldeirão

O beato José Lourenço Gomes da Silva chegou a Juazeiro do Norte em 1926, logo após o suposto milagre da hóstia. De acordo com pesquisadores, o Padre Cícero manteve uma grande amizade com o beato e era o mentor espiritual dele. O sacerdote foi o responsável também por encaminhar José Lourenço ao trabalho no campo com alguns romeiros que chegavam a Juazeiro em condições muito precárias, os chamados flagelados da seca.

Após a sedição da cidade, o beato e os romeiros teriam sido orientados a fazer do Caldeirão um espaço para uma nova forma de convivência, mesmo o espaço sendo considerado muito íngreme e com poucas condições para lavoura. Lá ele teria criado uma comunidade com traços igualitários. Cada família tinha sua residência e a produção era dividida entre todos.

O modo de vida atraía famílias de todo o sertão, desde pessoas com situação de fome, como fazendeiros e donos de engenho em busca da “terra prometida”. Havia também um cemitério e uma igreja, construídos pelos próprios membros. Em setembro de 1936, quando milhares de pessoas já viviam no local, houve a primeira invasão, na tentativa de acabar com a comunidade. Muitos fazendeiros e donos de engenhos afirmavam na época que não havia mais mão de obra na região.

Já a segunda invasão, em maio de 1937, já após a morte de Padre Cícero, que ocorreu em 1934, houve o bombardeio realizado por forças do Exército Brasileiro, onde muitas pessoas morreram. O episódio ficou conhecido em todo o país, como o massacre do Caldeirão. O número de mortos é até hoje desconhecido.

Hoje, além da romaria anual, existe um projeto chamado ‘Caldeirão Hoje’ que tem como objetivos manter viva a memória do lugar e transformar o caldeirão num ponto turístico reconhecido em todo nordeste. Para manter a valorização do lugar, excursões também são organizadas. No museu existem muitas peças, entre elas, quadros que ilustram o que houve.

Foto: Diocese do Crato / Fonte: G1

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