Diagnósticos de grávidas com HIV aumentam 62% em dez anos no Ceará


A presença do vírus da imunodeficiência humana (HIV) está em ascensão no Ceará, inclusive entre mulheres grávidas. Casos de gestantes infectadas passaram de 171 para 278, se comparados 2010 e 2019 – um aumento de 62,5%. Nos dez anos, foram 2.305 cearenses diagnosticadas com HIV durante a gravidez. Para especialistas, números são resultado da ampliação das testagens.

No Ceará, de janeiro a junho deste ano, 174 mulheres soropositivas identificaram a presença do HIV durante a gestação, média de 29 diagnósticos mensais. Os dados são do Boletim Epidemiológico HIV/aids 2020, divulgado pelo Ministério da Saúde (MS), na última terça-feira (1º), em alusão ao Dezembro Vermelho, mês voltado à conscientização para o tratamento precoce da síndrome da imunodeficiência adquirida (aids).

A taxa de infecção a cada mil nascidos vivos no Ceará também teve salto entre 2010 e 2019, de 1,3 para 2,1 infecções, segundo o levantamento. O aumento registrado nos últimos anos, argumenta o MS, “pode ser explicado, em parte, pela ampliação do diagnóstico no pré-natal e pela melhoria da vigilância na prevenção da transmissão vertical”.
Melissa Medeiros, médica infectologista do Hospital São José (HSJ), referência no acompanhamento de pessoas que vivem com HIV no estado, reforça que “o aumento, há vários anos, não é da quantidade de infecções, e sim dos diagnósticos”.

“Hoje, o exame de identificação do HIV faz parte da sorologia do pré-natal. Às vezes, a mulher já vivia com o vírus, mas não sabia até ser testada na atenção primária”, pontua.

Grávidas soropositivas são encaminhadas ao HSJ para prosseguirem com o tratamento após testarem positivo para HIV na atenção primária, porta de entrada para realização de acompanhamento pré-natal. A infectologista alerta que realizar exames periodicamente e buscar tratamento é importante para todos, mas reforça que, no caso das gestantes, “não se pode perder tempo”.

“Quanto antes ela tomar a medicação, maior a chance de a carga viral dela se tornar indetectável até o parto. Ou seja, a probabilidade de transmissão para o bebê é bem reduzida”, explica.

Pelo menos 369 crianças com menos de cinco anos de idade já foram diagnosticadas com aids, entre 1980, quando os primeiros casos da síndrome foram detectados no Ceará, e 2019. Só nos últimos dez anos, foram 145 meninos e meninas infectados, conforme o boletim epidemiológico federal. O levantamento, que abrange 2020 até o mês de junho, não detectou nenhum caso neste ano.

A transmissão vertical, quando o vírus passa de mãe para filho, é uma das maiores preocupações dos profissionais de saúde. Em Fortaleza, a Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac/UFC) e o Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC) adotam protocolos específicos para o parto de
gestantes soropositivas.

“Quando a mãe tem carga viral muito baixa, indetectável, pode fazer parto normal. Mas aquelas que não identificaram nem trataram de forma precoce fazem cesárea, para evitar o contato do bebê com o sangue”, informa Melissa. A amamentação, ela aponta, também é contra recomendada no Brasil.

Manter o acompanhamento da própria mãe após o parto é outro desafio do sistema de saúde. “Quando a mulher se torna mãe, lembra mais de cuidar do bebê do que dela mesma. Em função disso, não busca mais o tratamento. Mas é importante que as puérperas não abandonem a medicação. Precisamos reforçar mais essa adesão”, conclui a infectologista.
Em muitos casos é necessária uma busca ativa dos pacientes, como pontua Marcos Paiva, coordenador da Área Técnica de IST/aids da Secretaria da Saúde de Fortaleza (SMS).

“Na maioria das vezes, quando a farmácia pública percebe que a pessoa deixou de pegar medicação duas vezes seguidas, entra em contato com ela para ver o que aconteceu. Para os agentes de saúde da família, por exemplo, isso é mais complicado, porque muitas pessoas não querem ser expostas nos postos de saúde delas, preferem procurar os serviços especializados”, observa.

Ano de pandemia

Serviços especializados como o HSJ, por exemplo, “sofreram” durante a pandemia de Covid-19, diante da necessidade de remanejar profissionais de saúde à linha de frente. “Aconteceu em todos os lugares. As consultas eletivas foram desmarcadas. E era desaconselhado que pessoas soropositivas viessem ao hospital. Mas não deixaram de receber medicação”, pontua Dra. Melissa.

Foto: Getty Images via BBC

Fonte: Portal G1 CE

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